Tuesday, December 07, 2004


Plus des liaisons- Tindersticks Posted by Hello

Tuesday, November 30, 2004

Há dias em que as notícias escorrem pelo rosto incendiado e esvaziam a tua memória. Sento-me petrificada perante as palavras que oiço.
Como pode tudo acontecer num rasgo de segundo.Como pode uma vida despir-se num momento para invadir outro.
Fechar os olhos, adormecer perante a demência aclamada de dúvida inexplicável, suportar acordar.
" Há quem ajuize pelo aspecto do céu, a tendência e o estado do tempo nesse dia. Assim deveis entender meu olhar grave"- Shakespeare ditou estas palavras através de uma voz mensageira a Ricardo II.
Eu sei porque o cito, não me posso exprimir sem me explícitar, como tal, será inútil prosseguir esta tentativa frustrada de analogia.Será que o ser humano procura sempre uma dor, mesmo quando esta não está ao seu alcance?È preciso persistência, de facto.
"Falhar outra vez, ou melhor pior outra vez"- Samuel Beckett
Falhamos,sempre. Envolvemos nossas circunstâncias à medida que vamos fugindo de nós. Adulteramos os desejos na certeza de que vai doer. Sentimos a dor áspera para nos molharmos com uma água doce que se transfigura ao sabor das palavras divinizadas.


Alguém ficou só.
Alguém ficou a dormir numa cama vazia de memórias da carne
Alguém suspira fundo até ao limite de si, e olha para o nada que se lava na parede suja
Vai acordar sem uma respiração
Sem um dueto afirmado perante a luz matinal que se rasga na cortina movediça
mover-se sem cadência definida
Fala-me procurando ouvir em si, uma voz que suspire mais alto
Devagar embala a saudade que esmaga
O silêncio abafa as mãos que se escapam da penumbra
E vão morrendo na expressão vazia

Friday, November 19, 2004


As minhas raízes fugiram de mim Posted by Hello

Número 40 3º B

Hoje
Visitei pela ultima vez os contornos suaves da tua alma
As pegadas suadas de mim nos lábios quentes da tua pálida lembrança
Memórias dos sorrisos destroçados
De uma cama desfeita pelo sangue escrito
Olhei pela ultima vez, as paredes, as janelas que circundam os passos miopes de um altar alcatroado
As vozes rasuradas pela infima esperança
A gota perdida que me fez ressurgir em ti
"Hoje estou triste"- disse eu a uma voz materna invisivel
Ela respondeu: "Vais deixar um bocado de ti"
E agora, aqui estou eu sentada na minha poltrona, num casulo desconhecido,
Amando e desejando o que poderia ter sido dentro de ti.

Sunday, October 10, 2004

Despedida

Hoje olho a janela pela ultima vez
A rua será a mesma, com silêncios absurdos, com visões inesperadas
Amanhã, a memória que muitas vezes me deixou vazia, a rua que ficou despida
Ficará para sempre desenhada na alma que um dia se dirá minha

Os seus cabelos brancos contavam histórias que ninguem escuta em silêncio
O negro veste-se nela para não se ver a sua nudez
A pele riscou-se no tempo que se sobrepôe ao tempo
A sua voz era aquela que a sabedoria...
levou para um tempo que um dia será reconhecido
D. J. - R.I.P.


A senhora do prédio que circunda o meu suicidou-se
suicidou-se com os terrores que lhe lavaram a alma
numa casa iluminada pelo som das ondas do mar
foi morrer longe, para não se despedir tão perto
Distanciou-se de si
Para se sentir alguém
R.I.P.

Friday, August 27, 2004

Visões

Nas falhas quentes das feridas abertas
Percorre a minha língua laminosa
O homem passeia o seu animal
Com o olhar invisivel saboreando o chão
A senhora das rugas, caminhos marcados na sua face,
sente uma pedra na sua cabeça
uma faca a retirar o coração.
As janelas que se impõem na sombra
falam do nada que vêem
O chão ergue-se e cai
Um homem passeia o jornal
As palavras morrem esmagadas umas contra as outras
O vento lânguido sufoca as roupas expostas
viola-as, toma um gole de ar e adormece
Os homens e as mulheres entram e saem para rezar a um café e copo de água
E ter fé que o dia morra para voltarem ao silêncio das suas tumbas


Em frente a uma miragem artificial

Nos seios marcados que vislumbram o tempo
No suspiro trespassado de águas que alcançam o céu
Os rostos escondem-se por entre o verde morto
A árvore descaída acorrenta-se ao chão
Os vermelhos encostos arrastam-se pela estrada espezinhada
por uivos e risos de lágrimas
As lembranças passaram por aqui mas ninguém sabe
Os rastos planos atravessam as águas que se afogam
As pedras incomodam-se umas ás outras para um qualquer corpo se deitar
nos inconsoláveis dias de monotonia de longos hábitos
Os olhos vermelhos permanecem estáticos
mirando o movimento mecanizado dos estóicos prazeres
Ninguém sabe que todos sabem
Neste céu que corrói
Ninguém sabe que existe


Ao terminar estas palvras escorre-me pelo pensamento
o veneno do porquê que se molesta com fragmentos de espinhos enferrujados
O sentido a que se dá à nossa própria moléstia
As dúvidas inconsequentes fazem um caminho nas linhas de um papel branco
Estamos todos em branco
Invisíveis, desaparecidos

A consequência a que damos o nome de coisas inexplicáveis
a esfera em que nos fechamos para dizer que amamos
o medo que revitaliza as veias marcadas de pó
Somos invisíveis, as aparições sopram no corpo
e o fastio floresce, mergulhando na invisibilidade de nós
Todos julgamos ser máritires
gritamos como se de uma virtude se tratasse
Descemos os olhos para o crepúsculo do chão e soltamos uma lágrima de pena
"Ainda foi melhor outra vez"
Diz um sorriso feminino para um ardor masculino encostado ás suas coxas
A água canta enquanto morre na terra frágil
onde esguios verdes se aborrecem
Ao emigrar nesta folha branca
perdi o sorriso feminino e o ardor masculino
talvez fossem morrer para outras águas
Tenho as unhas negras de me escorraçar
O cigarro e o seu fumo flutuam nas minhas entranhas e de lá saem invisiveis
Esta capacidade infiel de sermos autistas e de julgarmos ter poder sobre nós...

Tuesday, August 24, 2004


observer Posted by Hello

Dias de Longe

Ontem, sob o olhar da janela fechada, a noite fechou-me os olhos
Hoje, ao acordar , olhei-me ao espelho, engoli-me.
Amanhã irei espantar todos os fantasmas que me absorvem o corpo





Thursday, August 19, 2004

Não ouvi que estava a fugir

Hoje mergulhando nos meus pés apressados , flutuei nas escadas rolantes que me levam ao mundo escondido esperando impacientemente a paragem do meu destino.
Os teus olhos ingenuos e desprotegidos incendiaram-me um sorriso.
Toquei-te na vontade de te ter.
Tocaste-me na memória, sem palavras.
Vi-te partir na esperança ressequida de nunca mais te poder abraçar.
Hoje e sempre sentir-te-ei como uma alma em mim

Tuesday, August 17, 2004


Keith Haring 16 Jun-19 Set.04 Apocalypse- textos de William Burroughs Posted by Hello


"The final Apocalypse is when every man sees what he sees, feels what he feels, and hears what he hears. The creatures of allyour dreams and nightmares are right here, right now, solid as they ever were or ever will be, eletric vitality of careening subways faster faster faster stations flash by in a blur." "Nothing is true, everthing is permited" Posted by Hellowords by William Burroughs

Tem voz de quem já morreu

Ouvindo Mad Season

Tuesday, July 27, 2004

Dias que morrem

Sim, que mais palavras encontrarei para esmagar o meu silêncio?
que efeméride irei rebuscar para contornar o esboço infalivel da carne?
Talvez amanhã
Hoje passados tantos vazios e recheios, me encontro a concordar com o que escrevi há uns meses atrás, neste mesmo banco que se tornou uma poltrona. (Afinal até os objectos precisam de novas aparições).
De novo remexo nos meus lamentos insignificantes à poeira do tempo.
Hoje esvaziei-me da minha cópia verbal. Fiz uma trasladação memorável aos olhos pobres. Estou agradavelmente satisfeita com a minha nulidade poética.
Talvez amanhã a merda aceitavel que se impôs aos meus olhos hoje, seja uma merda conspurcada de odio pela falta de poeticidade e engenho literário. No entanto a minha ânsia suburbana é mais forte que as minhas imprecações.
A importância de criticar aqueles que sugerem a sua importância e valor num trago de linha opinativas mantem-se. Ponto.
È uma crítica recheada de compaixão por aqueles que sofrem do mesmo problema congénito que eu: a solidão.
È urgente um rastreio!
Lamento que as suas vozes se queiram aproximar dos anjos ou demónios assumidamente humanizados.
A valorização dos seres solitários através dos seres ditos superiores: Aristóteles- Tragédia (enaltecer os feitos dos homens superiores), Comédia(enaltecer os desfeitos dos homens inferiores), a Pó Etica.
Sou um ser ridiculamente sensivel que se perturba com estas quesões assaz grotescas (estrondosamente este é o meu ponto de cegueira).
Há coisas na minha existência quotidianica(não me interessa se tal palavra se desenha numa folha de dicionário) que me continuam a chocar.
A necessidade desesperada de afirmação deixa-me...(fumo mais um cigarro para descobrir a verbalização deste sentimento).
Num estado de estupefação temporária/espontânea.
Sou mesmo capaz de dizer que o meu sentimento se transporta para um acto físico violento: arrancar as cordas vocais com os meus dentes e sentir as vozes arruinarem-se num vazio pedindo clemência.
Quando oiço vozes reais, que não da minha imaginação, deformarem-se ao meu ouvido, ampliadas no preconceito, a veia magistral afirma-se ao exterior e cá estou eu a viver entre o meu autocontrole e compreensão, e a minha animalidade que soletra palavras químicas e corrosivas. Serei eu um sacerdote do mal?
Seremos nós a nossa própria importância e decadência?
Estaremos sempre a esquecer e a lembrar o que somos e o que seremos?
Hoje sou o lobo mau, amanhã o capuchinho vermelho.

Monday, July 26, 2004


 Posted by Hello

Decomposição

E sentido a vaidade de sentir pena de ti mesmo Me esmago nessa tua inoperâcia volátil Esses manifestos anti-vida Dão-me nauseas e vontade de te gritar ao ouvido Todas a vozes de lamentos e discursos nasais de auto pena Se esvaziam numa caixa de retratos Se erguem no pulpito sacro-herege sonoro O silêncio de se ouvir algumas vozes não é suficiente Os olhos são a comiseração das tuas palavras A ablução da tua pena estóica Seremos todos sobreviventes de um mal Seremos todos sobreviventes de nós Descarna-se lentamente até chegar ao osso Escreve amo-te e volta-se a tapar com a saliva incadescente Um rebanho de carne vermelha urge no canto direito da sal A fogueira das desvaidades penteadas do lado esquerdo O fumo do cigarro enrola-se Floresce na sua volupia desvanescente Seremos todods penosos de vozes recaídas no fundo do poço? Que poço atravessa a linha recurva de um olhar? Fé Nos distúrbios das linhas recurvas da memória Acordo numa manhã ao sol de um rio que se banha na tempestade do medo Adormeço ao sono de uma valsa e o tempo esvazia-se Sem nada haverá somente tudo Sem nada serei um refúgio Descalço-me de mim, vazia da intemperie do pensamento E o tempo escorre-me ao canto da boca