Tuesday, July 27, 2004

Dias que morrem

Sim, que mais palavras encontrarei para esmagar o meu silêncio?
que efeméride irei rebuscar para contornar o esboço infalivel da carne?
Talvez amanhã
Hoje passados tantos vazios e recheios, me encontro a concordar com o que escrevi há uns meses atrás, neste mesmo banco que se tornou uma poltrona. (Afinal até os objectos precisam de novas aparições).
De novo remexo nos meus lamentos insignificantes à poeira do tempo.
Hoje esvaziei-me da minha cópia verbal. Fiz uma trasladação memorável aos olhos pobres. Estou agradavelmente satisfeita com a minha nulidade poética.
Talvez amanhã a merda aceitavel que se impôs aos meus olhos hoje, seja uma merda conspurcada de odio pela falta de poeticidade e engenho literário. No entanto a minha ânsia suburbana é mais forte que as minhas imprecações.
A importância de criticar aqueles que sugerem a sua importância e valor num trago de linha opinativas mantem-se. Ponto.
È uma crítica recheada de compaixão por aqueles que sofrem do mesmo problema congénito que eu: a solidão.
È urgente um rastreio!
Lamento que as suas vozes se queiram aproximar dos anjos ou demónios assumidamente humanizados.
A valorização dos seres solitários através dos seres ditos superiores: Aristóteles- Tragédia (enaltecer os feitos dos homens superiores), Comédia(enaltecer os desfeitos dos homens inferiores), a Pó Etica.
Sou um ser ridiculamente sensivel que se perturba com estas quesões assaz grotescas (estrondosamente este é o meu ponto de cegueira).
Há coisas na minha existência quotidianica(não me interessa se tal palavra se desenha numa folha de dicionário) que me continuam a chocar.
A necessidade desesperada de afirmação deixa-me...(fumo mais um cigarro para descobrir a verbalização deste sentimento).
Num estado de estupefação temporária/espontânea.
Sou mesmo capaz de dizer que o meu sentimento se transporta para um acto físico violento: arrancar as cordas vocais com os meus dentes e sentir as vozes arruinarem-se num vazio pedindo clemência.
Quando oiço vozes reais, que não da minha imaginação, deformarem-se ao meu ouvido, ampliadas no preconceito, a veia magistral afirma-se ao exterior e cá estou eu a viver entre o meu autocontrole e compreensão, e a minha animalidade que soletra palavras químicas e corrosivas. Serei eu um sacerdote do mal?
Seremos nós a nossa própria importância e decadência?
Estaremos sempre a esquecer e a lembrar o que somos e o que seremos?
Hoje sou o lobo mau, amanhã o capuchinho vermelho.

Monday, July 26, 2004


 Posted by Hello

Decomposição

E sentido a vaidade de sentir pena de ti mesmo Me esmago nessa tua inoperâcia volátil Esses manifestos anti-vida Dão-me nauseas e vontade de te gritar ao ouvido Todas a vozes de lamentos e discursos nasais de auto pena Se esvaziam numa caixa de retratos Se erguem no pulpito sacro-herege sonoro O silêncio de se ouvir algumas vozes não é suficiente Os olhos são a comiseração das tuas palavras A ablução da tua pena estóica Seremos todos sobreviventes de um mal Seremos todos sobreviventes de nós Descarna-se lentamente até chegar ao osso Escreve amo-te e volta-se a tapar com a saliva incadescente Um rebanho de carne vermelha urge no canto direito da sal A fogueira das desvaidades penteadas do lado esquerdo O fumo do cigarro enrola-se Floresce na sua volupia desvanescente Seremos todods penosos de vozes recaídas no fundo do poço? Que poço atravessa a linha recurva de um olhar? Fé Nos distúrbios das linhas recurvas da memória Acordo numa manhã ao sol de um rio que se banha na tempestade do medo Adormeço ao sono de uma valsa e o tempo esvazia-se Sem nada haverá somente tudo Sem nada serei um refúgio Descalço-me de mim, vazia da intemperie do pensamento E o tempo escorre-me ao canto da boca