Hoje estou entre mim e a copula de um negro rasgar
Todas as coisas foram palavras e olhares que secaram na descida do EU
Eu sou Eu e não sou outra pessoa
Vou escalavrar-me por ter cedido ao desejo de um fantoche branco que sorri com os olhos
Hoje sou a ignorada de todos os dias com a vontade de me sentir em pena
Hoje sou a nascida e morta ao mesmo tempo pelas palavras circunscritas abafadas por um doce
Hoje sou eu, com pupilas gustativas e o coração vazio
Hoje sou eu com a vontade de não existir neste reino de coisas jogadas
Hoje sou eu sem vontade de ser eu, dentro de uma caixa de acrílico que não vai morrer
Hoje sou eu numa estação de comboio a fazer ballet e tranças compridas a gritar por Rapunzel
Hoje sou os meus dedos de unhas brancas à procura da terra
Hoje sou eu à procura do rio sereno que se transfigura no meu cinzento
Hoje sou eu de óculos escuros em silêncio
Hoje sou eu a sentir-me cobrada
Hoje sou eu a não querer nada
Hoje sou eu a dançar sozinha
Hoje sou eu a fechar os olhos
Hoje sou eu a discíputa
Hoje sou eu a quase discípula
Hoje sou eu com o meu rim direito em sentido para não doer
Hoje sou eu com a dor dela
Hoje sou eu a desejar estar contigo meu amor Rita
Hoje sou eu a desejar estar contigo meu amor Rita Mãe
Hoje sou eu que me abraço no teu corpo felino
Hoje sou eu a ter saudades do teu corpo felino
Hoje sou Café au Lait
Hoje sou eu a almejar a eternidade sem dedos para isso
Hoje sou eu a deitar lágrimas ao entardecer
Hoje sou eu com cigarros e vinho tinto entre quatro paredes cheias de ruídos
Hoje sou eu em Nova Iorque e no Cais do Sodré a ver um tapete cor de roda
Hoje sou eu no instante blasfemo e no prolongar puro
Hoje sou eu em forma de coisa redonda porque não quero parecer oblíquoa
Hoje sou eu com vozes rápidas atrás de mim
Hoje sou eu com frio dentro de mim porque não quero chover
Hoje chovi
Hoje sou um lençol a cantar fado vadio
Hoje sou aquilo que cegamente procuro ser, numa estante vazia