Saturday, April 21, 2012

Hoje estou entre mim e a copula de um negro rasgar Todas as coisas foram palavras e olhares que secaram na descida do EU Eu sou Eu e não sou outra pessoa Vou escalavrar-me por ter cedido ao desejo de um fantoche branco que sorri com os olhos Hoje sou a ignorada de todos os dias com a vontade de me sentir em pena Hoje sou a nascida e morta ao mesmo tempo pelas palavras circunscritas abafadas por um doce Hoje sou eu, com pupilas gustativas e o coração vazio Hoje sou eu com a vontade de não existir neste reino de coisas jogadas Hoje sou eu sem vontade de ser eu, dentro de uma caixa de acrílico que não vai morrer Hoje sou eu numa estação de comboio a fazer ballet e tranças compridas a gritar por Rapunzel Hoje sou os meus dedos de unhas brancas à procura da terra Hoje sou eu à procura do rio sereno que se transfigura no meu cinzento Hoje sou eu de óculos escuros em silêncio Hoje sou eu a sentir-me cobrada Hoje sou eu a não querer nada Hoje sou eu a dançar sozinha Hoje sou eu a fechar os olhos Hoje sou eu a discíputa Hoje sou eu a quase discípula Hoje sou eu com o meu rim direito em sentido para não doer Hoje sou eu com a dor dela Hoje sou eu a desejar estar contigo meu amor Rita Hoje sou eu a desejar estar contigo meu amor Rita Mãe Hoje sou eu que me abraço no teu corpo felino Hoje sou eu a ter saudades do teu corpo felino Hoje sou Café au Lait Hoje sou eu a almejar a eternidade sem dedos para isso Hoje sou eu a deitar lágrimas ao entardecer Hoje sou eu com cigarros e vinho tinto entre quatro paredes cheias de ruídos Hoje sou eu em Nova Iorque e no Cais do Sodré a ver um tapete cor de roda Hoje sou eu no instante blasfemo e no prolongar puro Hoje sou eu em forma de coisa redonda porque não quero parecer oblíquoa Hoje sou eu com vozes rápidas atrás de mim Hoje sou eu com frio dentro de mim porque não quero chover Hoje chovi Hoje sou um lençol a cantar fado vadio Hoje sou aquilo que cegamente procuro ser, numa estante vazia