Saturday, November 19, 2005

Cocteau Twins - milk and kisses

A chuva está exposta na minha janela
Vem lembrar-me de um deslizar da memória
Acordei num silêncio
Hoje vejo pessoas agitadas a passarem as suas línguas pela minha boca
Os seus dedos trespassam a minha dor e apertam-me a carne
Os líquidos transparentes gotejam a minha pele que se ilumina num sussurro...

meias de mousse pelo joelho
saia acima do joelho
Embalo-me nestes toques repousantes ao chão

Hoje, Madalena, tocou sem pudor aos olhos dos espelhos as suas meias que findam na sombra dos seus dedos
Abriu a porta e saiu sentindo que os espelhos eram olhos gotejantes
Debaixo da sua pálida transparência, anunciou-se uma mulher...
E voltou estoicamente ao barulho das montras que engolem os corpos ávidos de uma vida estática
Murmura-se a si mesma atrás de um balcão de cristal onde os principes e princesas anunciam o seu estado de desalma

Cocteau Twins - milk and kisses

A chuva está exposta na minha janela
Vem lembrar-me de um deslizar da memória
Acordei num silêncio
Hoje vejo pessoas agitadas a passarem as suas línguas pela minha boca
Os seus dedos trespassam a minha dor e apertam-me a carne
Os líquidos transparentes gotejam a minha pele que se ilumina num sussurro...

meias de mousse pelo joelho
saia acima do joelho
Embalo-me nestes toques repousantes ao chão

Hoje, Madalena, tocou sem pudor aos olhos dos espelhos as suas meias que findam na sombra dos seus dedos
Abriu a porta e saiu sentindo que os espelhos eram olhos gotejantes
Debaixo da sua pálida transparência, anunciou-se uma mulher...
E voltou estoicamente ao barulho das montras que engolem os corpos ávidos de uma vida estática
Murmura-se a si mesma atrás de um balcão de cristal onde os principes e princesas anunciam o seu estado de desalma

I am a shadow with no place to hide






Friday, November 11, 2005

Olhando uma janela no silêncio de Bach...

No esconso vazio de uma memória acesa, arrepio as minhas formas
Sou o gelo fogo que se quer extinguir
Sou a bruma de uma nuvem desvanecida
Sou a temperatura de um corpo incendiado
Rasgo, fecho, grito, nessa tua voz de dúvida monócordica
Perpetuo os meus olhos fechados numa sagaz invenção do nunca
Que belas palavras despidas de um mundo meu
Esta noite um fio de sombra desenha-se num pasmar cor de rosa velho
Uma janela que transparece o negro do vazio que lá tem dentro
Mira os olhos com lunetas riscadas daqueles que querem ver
Sobrevivo-me com esta deslumbrante noite silenciosa que me aperta bem fundo
Sou os desenhos vibratórios de uma janela que fala
Que ausência de sentido se apodera da minha desvirtuosa imagem
Mergulho a minha língua num sensor promíscuo que tanto me pune
As palavras são palavras no desenho da memória de uma lua imaginada no coração de um céu

O anjo silencia-se na sua melodia incandescente
Fecho os olhos e ao som do anjo vejo a noite de uma terra e casa distante
As suas arcadas falando uma língua estranha que se entranha no meu corpo estático e me transparece
O piano aumenta o fôlego da minha voz pensante e sua com estrondos de faces familiares que me ofereciam copos de vinho quando a inspiração corroída não me visitava

Respiro por entre as palavras
Perdão por ouvir um violino em vez de facas
Perdão pelo pelo sorriso entre o cigarro e o seu nevoeiro
Perdão por eu sou eu e não sou outra pessoa

Este é o momento sublime do presente em que todas as formas e ruídos me desejavam uma morte feliz
Encolho-me no meu corpo indesejável para respirar a essência do único momento
Uma vez dentro
Não mais sairás/não mais sairei
E desfaço-me nestas palavras outrora lidas pelos meus olhos picados pelo murmúrio
de uma descoberta de conto de fadas com semblantes de fantasmas

Saí de mim para nunca mais voltar

Olhando uma janela no silêncio de Bach...

No esconso vazio de uma memória acesa, arrepio as minhas formas
Sou o gelo fogo que se quer extinguir
Sou a bruma de uma nuvem desvanecida
Sou a temperatura de um corpo incendiado
Rasgo, fecho, grito, nessa tua voz de dúvida monócordica
Perpetuo os meus olhos fechados numa sagaz invenção do nunca
Que belas palavras despidas de um mundo meu
Esta noite um fio de sombra desenha-se num pasmar cor de rosa velho
Uma janela que transparece o negro do vazio que lá tem dentro
Mira os olhos com lunetas riscadas daqueles que querem ver
Sobrevivo-me com esta deslumbrante noite silenciosa que me aperta bem fundo
Sou os desenhos vibratórios de uma janela que fala
Que ausência de sentido se apodera da minha desvirtuosa imagem
Mergulho a minha língua num sensor promíscuo que tanto me pune
As palavras são palavras no desenho da memória de uma lua imaginada no coração de um céu

O anjo silencia-se na sua melodia incandescente
Fecho os olhos e ao som do anjo vejo a noite de uma terra e casa distante
As suas arcadas falando uma língua estranha que se entranha no meu corpo estático e me transparece
O piano aumenta o fôlego da minha voz pensante e sua com estrondos de faces familiares que me ofereciam copos de vinho quando a inspiração corroída não me visitava

Respiro por entre as palavras
Perdão por ouvir um violino em vez de facas
Perdão pelo pelo sorriso entre o cigarro e o seu nevoeiro
Perdão por eu sou eu e não sou outra pessoa

Este é o momento sublime do presente em que todas as formas e ruídos me desejavam uma morte feliz
Encolho-me no meu corpo indesejável para respirar a essência do único momento
Uma vez dentro
Não mais sairás/não mais sairei
E desfaço-me nestas palavras outrora lidas pelos meus olhos picados pelo murmúrio
de uma descoberta de conto de fadas com semblantes de fantasmas

Saí de mim para nunca mais voltar

Wednesday, June 01, 2005

O Anjo

Anthony and the Jonhsons(Aula Magna, 31 de Maio de 2005)

Wednesday, April 06, 2005

O Náufrago - Thomas Bernhard

Sunday, April 03, 2005

"Tudo é ridículo quando se pensa na morte"- Thomas Bernhard

Os meus olhos só te avistavam de passagem longuinquamente de um terceiro andar furtivo. De vez em quando acenavas quando a minha voz soletrava aos teus ouvidos. Nunca conheceste as minhas quatro paredes que desembocavam num rio de estrada por onde pairavas todas as noites.
Nunca te conheci muitas palavras. Só naquelas noites em que múrmurio de gente familiar se gargalhava ou mastigava palavras dissolventes, só aí te conhecia a tua voz rouca. O olhar sério mas profundo de um enigma por descobrir. Quem foste?
Só agora me dei conta de quem foste, ou de quem gostaria de saber que foste? Será muito confuso apadrinhar estas palavras como minhas? Que estranho não saber nada de ninguém e sofrer com alma o que se sabe? Nada.
O silêncio era o que mais conhecia em ti. Que palavras me dirias, que voz terias ao falares de ti, do teu eu, feliz ou pesaroso?
Nunca te conheci. Muitas vezes me questionava quem eras tu? Um sobrevivente ou um vivente clandestino?
Não te imaginava como um eu da minha vida, mas também não te concebia como um aparte que não pudesse ver mais.
A vida tem destas coisas, ambiguamente sólidas e líquidas.


R.I.P M.P.