Sento-me num Sol secreto
á espera da sombra
O som do mármore no corpo solene espreita no fumo solto,
eloquente de uma boca semicerrada
A noite permanece sentada, aguardando o Destino de se
aproximar,deliquente
nas formas que ainda não se sentem, que não se tocam
Sento-me no Sol secreto, descoberto a entrar pelas minhas
rugas, pelas gotas secas da minha pele, pelos
resquícios de uma praia deserta com dois corpos nus enfrentando o som
das ondas
A noite permanece sentada, aguardando o Destino de se
aproximar, silenciosa
A memória repete-se, fragmentada, e regressa ao lugar do
frio e do quente, do abraço e do beijo, de um comboio a naufragar num líquido
de sapatos pretos envernizados
Uma viagem contínua mas suspensa
Um viajante que cerca as suas palavras no deserto raro de areia inundada de pegadas
Sento-me no Sol secreto a guardar na palma da mão a ultima
sombra
Aquela que a noite irá roubar com rubor displicente
Vagarosamente, os dedos das mãos,
Vagarosamente o braço a pender
Vagarosamente o ombro acompanha
E todo o corpo desliza num suspiro cálido
O vazio
E a promessa da Alma