Friday, November 11, 2005

Olhando uma janela no silêncio de Bach...

No esconso vazio de uma memória acesa, arrepio as minhas formas
Sou o gelo fogo que se quer extinguir
Sou a bruma de uma nuvem desvanecida
Sou a temperatura de um corpo incendiado
Rasgo, fecho, grito, nessa tua voz de dúvida monócordica
Perpetuo os meus olhos fechados numa sagaz invenção do nunca
Que belas palavras despidas de um mundo meu
Esta noite um fio de sombra desenha-se num pasmar cor de rosa velho
Uma janela que transparece o negro do vazio que lá tem dentro
Mira os olhos com lunetas riscadas daqueles que querem ver
Sobrevivo-me com esta deslumbrante noite silenciosa que me aperta bem fundo
Sou os desenhos vibratórios de uma janela que fala
Que ausência de sentido se apodera da minha desvirtuosa imagem
Mergulho a minha língua num sensor promíscuo que tanto me pune
As palavras são palavras no desenho da memória de uma lua imaginada no coração de um céu

O anjo silencia-se na sua melodia incandescente
Fecho os olhos e ao som do anjo vejo a noite de uma terra e casa distante
As suas arcadas falando uma língua estranha que se entranha no meu corpo estático e me transparece
O piano aumenta o fôlego da minha voz pensante e sua com estrondos de faces familiares que me ofereciam copos de vinho quando a inspiração corroída não me visitava

Respiro por entre as palavras
Perdão por ouvir um violino em vez de facas
Perdão pelo pelo sorriso entre o cigarro e o seu nevoeiro
Perdão por eu sou eu e não sou outra pessoa

Este é o momento sublime do presente em que todas as formas e ruídos me desejavam uma morte feliz
Encolho-me no meu corpo indesejável para respirar a essência do único momento
Uma vez dentro
Não mais sairás/não mais sairei
E desfaço-me nestas palavras outrora lidas pelos meus olhos picados pelo murmúrio
de uma descoberta de conto de fadas com semblantes de fantasmas

Saí de mim para nunca mais voltar