Sunday, July 15, 2012

Hoje todas as coisas se vestem de linho
Até as palavras me parecem um linho quase desfeito
Porque me parecem vielas onde eu quero ir dar
Para não me socorrer da fuga a que pertenço
E alguém veste uma blusa de linho que se transparece no corpo vago
no meio sexo , no meio olhar, na mea culpa de qualquer coisa
que está agarrada por dentro
só se mexe com o ruído de uma dor não exacta
aquela do ventre
aquela que é profunda e quase anónima
aquela que vem do princípio e que não tem fim
e que se espalha lentamente como se fosse o refrão do corpo
a falar pela alma
No linho vejo a tua sombra, os teus lábios solenes, quietos, quentes
Aguardando uma palavra sem sentido
Mas a que esperas ouvir
sem o pudor na mãos mas com ele dentro
O que se não quer ouvir ,mas que se sente
aos poucos, devagarinho, a respirar
em bicos de pés
A textura a sair da boca transparente
com laivos brancos, rugosos,secos

e o linho escasseia para contar mais segredos

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