Tuesday, November 30, 2004

Há dias em que as notícias escorrem pelo rosto incendiado e esvaziam a tua memória. Sento-me petrificada perante as palavras que oiço.
Como pode tudo acontecer num rasgo de segundo.Como pode uma vida despir-se num momento para invadir outro.
Fechar os olhos, adormecer perante a demência aclamada de dúvida inexplicável, suportar acordar.
" Há quem ajuize pelo aspecto do céu, a tendência e o estado do tempo nesse dia. Assim deveis entender meu olhar grave"- Shakespeare ditou estas palavras através de uma voz mensageira a Ricardo II.
Eu sei porque o cito, não me posso exprimir sem me explícitar, como tal, será inútil prosseguir esta tentativa frustrada de analogia.Será que o ser humano procura sempre uma dor, mesmo quando esta não está ao seu alcance?È preciso persistência, de facto.
"Falhar outra vez, ou melhor pior outra vez"- Samuel Beckett
Falhamos,sempre. Envolvemos nossas circunstâncias à medida que vamos fugindo de nós. Adulteramos os desejos na certeza de que vai doer. Sentimos a dor áspera para nos molharmos com uma água doce que se transfigura ao sabor das palavras divinizadas.


Alguém ficou só.
Alguém ficou a dormir numa cama vazia de memórias da carne
Alguém suspira fundo até ao limite de si, e olha para o nada que se lava na parede suja
Vai acordar sem uma respiração
Sem um dueto afirmado perante a luz matinal que se rasga na cortina movediça
mover-se sem cadência definida
Fala-me procurando ouvir em si, uma voz que suspire mais alto
Devagar embala a saudade que esmaga
O silêncio abafa as mãos que se escapam da penumbra
E vão morrendo na expressão vazia

Friday, November 19, 2004


As minhas raízes fugiram de mim Posted by Hello

Número 40 3º B

Hoje
Visitei pela ultima vez os contornos suaves da tua alma
As pegadas suadas de mim nos lábios quentes da tua pálida lembrança
Memórias dos sorrisos destroçados
De uma cama desfeita pelo sangue escrito
Olhei pela ultima vez, as paredes, as janelas que circundam os passos miopes de um altar alcatroado
As vozes rasuradas pela infima esperança
A gota perdida que me fez ressurgir em ti
"Hoje estou triste"- disse eu a uma voz materna invisivel
Ela respondeu: "Vais deixar um bocado de ti"
E agora, aqui estou eu sentada na minha poltrona, num casulo desconhecido,
Amando e desejando o que poderia ter sido dentro de ti.